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29 de maio de 2010

Tirei do meu calendário.

Tirei o dia de hoje do meu calendário.
Lembro tudo dessa data. Nada me escapa.
Um dia comum sabia que não era.
A sístole das horas descompassava.
Muito estava para acontecer.
Reservas foram reservadas.
Desesperava a esperança.
Espremiam meu coração.
Aperto no peito assim desconhecia.
A vida perdia o rumo em busca de outro.
Interrompi o trabalho voltando para casa.
As peças tinham que estar arrumadas para serem pregadas.
Se pudesse teria agarrado com a mão o tempo que ainda restava.
Se soubesse voltaria para um abraço mais uma vez.
O toque do telefone foi diferente.
Atendi sem saber ouvir.
Clareza dos sentidos faltava.
Toda presença confundia tanta ausência.
O que se passava, até o último instante, não entendia.
Achava que a qualquer momento tudo voltaria como antes.
O dia, hora e modo eu não conseguia imaginar.
Tudo foi tão natural que desaguei.
Assim tinha que ser.
Fui arrancado do inseparável.
Nesse dia minha mãe partiu e partido fiquei.

10 de maio de 2010

Eterníssima é o seu nome.

Hoje, dia das mães, choveu grande parte do dia.
Tempo com cheiro de terra, tempero e temperatura.
Tudo lembrou minha mãe.
Perto dela ficava grande e pequeno.
Tinha coragem e medo.
Medida não havia.
Ela era o meu norte e toda a minha canção.
Ao seu lado tinha certeza que o amor é possível.
Junto dela não desgrudava.
Setembro com ela parecia outubro.
Amor desses, dizem os especialistas demarcando as diferenças,
já se encontrava na mitológica Tebas com o "Complexo de Édipo".
Minha mãe foi a minha melhor professora e maior amiga.
Ganho o dia inteiro quando ouço que “sou a cara da mamãe”.
No espelho é inevitável encontrar-me nela.
Vai entender os tantos laços de quem ama com todo amor.
Encheu-me de "talquinho” certamente pra toda vida.
Herdei tudo dela. A mala veio cheia.
A ela tudo devo.
Confesso que não sou sempre o que ela esperava.
Nunca abriu mão de mim por nada.
Sempre segurou as minhas pontas.
Ai de mim se não fosse ela.
Quando juntos, era egoísta. Nada faltava.
Agradeço a Deus que nos fez mãe e filho.
Dias não há que ela não passeia pelo meu pensamento.
Guardo as nossas lembranças como o maior tesouro.
Há anos não está mais comigo.  Nunca sei morreu en mim.
Quando perdi minha mãe pensei que fosse morrer de tanta dor.
Longe dela fiquei sem o pé.
Sua última fala foi que “tinha que aprender a viver sem ela”.
Morrendo esmerava-se, ainda, ensinando a vida.
“ETERNÍSSIMA” é o seu nome e "SAUDADE" é o meu.

6 de maio de 2010

Hoje a Justiça faltou.

               Julgar, pleitear, requerer, sentenciar, demandar, fazer petição, “valorar”, arbitrar, apontar o dedo, atirar a primeira pedra são expressões que decisivamente, merecem, no nosso cotidiano, toda atenção e cuidado.
               Ajuíza-se com ponto de vista multifocal ou desfocado. Sentencia-se dispensando variáveis no “arme e efetue”, enquanto o implacável desfila.  Desespera-se o veredicto na busca por acomodação A ética fica envergonhada, porque querer não basta, é preciso requerer. O “legal” suplica legitimidade.
               O “natural” que como uma criança corre, tropeça no protocolo do “judicial”. O acertado maltrapilha-se na pendência. A solicitação emoldura-se na petição. O acordado adormece na querela. Negociar sem espaço, só numa audiência. 
                Mais papel, menos palavras. Mais conta, menos soma. Mais discórdia, menos conciliação. Mais processo, menos cessar. Mais burocracia, menos humanismo. Mais interrogação, menos exclamação. Mais tempestade, menos brisa.
               Jogadas as “cartas na mesa”, “roupas sujas” são lavadas. Desvalendo o acordo, peças são partidas,  Sem dissecar o verbo o autoritarismo vem disfarçado de autoridade.
              Geralmente, exigimos rigor exemplar quando assistimos atos repugnantes diante de padrões morais indiscutíveis. Nessas horas, os fóruns ficam lotados com a população clamando “justiça”, o  que nos faz voltarmos a acreditar que ainda é possível a construção de um país mais justo e menos desigual.
                No entanto, que rigor é utilizado quando se mata os sonhos, mutila os ideais, golpeia a natureza, desabilita a esperança, descaracteriza a imagem, desconserta o entusiasmo e desautoriza a credencial? Essas respostas eu desconheço e não sei se existem.
                O julgamento do “outro” sempre acontece todos os dias e em várias esferas. Com dia e hora marcada antecipadamente, comigo hoje foi a primeira vez e queria que fosse a última.
                Trata-se, em resumo, de uma causa trabalhista, que pretende se esforçar para remediar através da Justiça anos de tanto trabalho, onde as partes quebradas buscam o meio que acreditam remendar, cada qual a seu modo.
                Abandonado o princípio, caiu a máscara do meio num triste fim. O acordo sugerido pelo empregador, tão envergonhado, já veio desacordado. A audiência aconteceu enquanto as duas partes pareciam que tratavam coisas diferentes diante de provas solares que o Direito não reconhece.
               Inacreditável!   Todos os meus desagrados foram falados, sem censura e interrupção, por mim mesmo e ouvidos com a atenção que a causa merece diante de todos os presentes na audiência. Cheguei até a questionar, diante da Juíza em exercício, quando o empregador será freado, se ele possui leis próprias ou está além delas.
               Nenhum ressarcimento material valerá o custo pessoal, subjetivo, intransferível e inestimável, já que respeito não sendo mercadoria, não tem preço. Batendo o martelo foi marcada nova data, dessa vez com testemunhas intimadas.
              Quando acontece  a Justiça  sempre emociona. Pena que  hoje ela faltou comigo. O mais impressionante disso tudo é que apesar das tantas peças pregadas pelo empregador, meu amor por esse colégio nunca diminuiu um centímetro.
              Ainda não foi dessa vez que um Juiz deu ganho de causa às legítimas razões de quem ensinava e que, por ironia ou provação,  nasceu no dia do professor.