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17 de abril de 2010

A adorável má companhia.

               A adorável má companhia é o maior achado e a melhor perdição. Combinando informalidade e descontração ela está fora do lugar comum. Encontra-se além da semântica no espaço que não há tradução. Que sintaxe!
               Mesmo que já tenha sido vista e revista tantas vezes, a adorável má companhia traz sempre o novo. Talvez seu encantamento e grandeza esteja na novidade antenada que, irresistivelmente, a sua presença promove. Que abordagem!
               Perde-se a noção de tempo quando chega. Ela amarrota o passado, desdobra e passa logo o presente a limpo. Sua sinceridade e delicadeza envergonham. Sua espontaneidade e graça entusiasmam. Escapa o eixo da gravidade e provoca. Desconserta as convenções e desafia. Que pique!
               A adorável má companhia é danada: perto dela conta-se de uma vez tudo e não se esconde nada. Quando parece que tudo foi dito, vem ela e diz que ainda não tinha nem começado. Dispensando rodeios, ela vai direto ao ponto. Que pontaria!
               É praticamente uma garimpeira que, com uma peneira na mão, esmera-se na delicada e precisa distinção entre o valor e o cascalho. “Sempre alerta” parece exemplar escoteira. É uma confiável vidente: sabe o que se passa por dentro com um olhar. Em instantes, capta todos os medos e não conta. Que visão!
               Ganha o dia com amenidades e conduz a vida como a dama. Mete o pé na porta e invade o instante que acontece. Quando não junta duas letras já faz um verso inteiro. Ela não cisma, encasqueta. Ainda nas segundas, ela já se adianta e está nas terceiras. Na sua prece clama por aqueles que não sabem se divertir. Que filosofia!
               Acerta as contas da vida à vista. Seu equilíbrio desequilibra. Sua presença exige fotografia. Sua pluralidade acorda o particular. Sua franqueza adormece a etiqueta. Está mais para montanha-russa que para carrossel. Prefere a roda gigante que o trem fantasma. Que aventura!
               Sua estrutura simples é muito complexa. É frágil metida à forte. Se objetiva e prática passa batida por valente e brava. É mais humana que apenas gingante. Tão iluminada, fica sujeita a uma classificação precipitada. É tão racional quanto arrebatadora. Que formas!
               É o próprio convite para a grande festa. Merece aplausos a sua atuação. Seu jeito vira marca. Desconcentra a sua atenção. Vive a postos, sempre pronta. Flexiona com fundamento. Nela tudo fala. Sua batalha tem um quê de sobrevivente. Dá gosto o seu abraço e seu sorriso tem história. Que layout!
               Tive a feliz coincidência de encontrar, nessa vida, adoráveis más companhias. Diante de todas, fiz a exposição do inconfessável, com a absoluta certeza, que em nenhum tempo ou lugar, isso seria desperdiçado como cifras. Com outras combinamos que ficaríamos velhinhos todos juntos. Uma escreveu meu nome nas areias de Itapuã. Que poesia!
                Duas olharam o céu comigo e o que menos importava, naquele instante, era o frio no monumento forrado pelo jornal. Há aquela que disse que seria janeiro, mas já se passaram muitos verões.  Outra foi de cara reconhecida com “um boa tarde”. Que temperatura!
                 Uma ensina que o comedido é vizinho do despojado, basta um bom motivo. Reencontrei uma que, enquanto eu estava cheio de mala pesada, ela carregava dor. A gargalhada inigualável de outra sou capaz de ouvir no recado virtual. Que tecnologia!
                Sempre que a adorável má companhia sorri parece que encontro o sol. Um dia comum vira feriado nacional na sua presença. “Flores” e “Paz” nos registros de umas não são à toa. Cheguei a combinar com outra que, na próxima, vamos descansar porque essa aqui está uma canseira daquela. Todas, sem saber, me fizeram crescer, pelo menos, uns dez metros. Que altura!
                De um jeito ou de outro, esse texto apenas tenta visitar minhas adoráveis más companhias. Hoje, especialmente, uma que aniversaria e traz na inicial de seus sobrenomes as letras “F” de “FUNDAMENTAL” e “M” de “MADONA”. O mais certo e impressionante disso tudo é que só uma adorável má companhia entende tão bem uma outra. Que confraria!

10 de abril de 2010

Quero esquecer, não consigo.

               A memória é um grande carrasco. Pode-se mudar de lugar, andar por novos ares, encontrar desconhecidos atalhos, buscar outro tom, ouvir nenhum som, encapar a recordação, refazer o contrafeito, apurar o insolúvel, mas nada funciona como uma borracha invisível quando a lembrança tem uma força visceral.
               A capacidade que há em reter ideias e impressões, em lembrar exatamente sem rever, em ouvir perfeitamente quando já não se fala, em sentir o sabor quando não há mais o perfume, em reviver um fato passado como se estivesse acabado de acontecer é terrivelmente doloroso, quando se faz um esforço tremendo para esquecer.
               O mais fácil seria deixar para lá, seguir adiante sem olhar para trás e virar uma estátua de sal. Melhor seria entender que os contratempos fazem parte da vida de todo mundo e encarar com sublime naturalidade o que é imponderável.
               A mesma ofensa que significa um peteleco para uns, é capaz de exercer, sem exagero, um efeito devastador. Brincar com fogo pode queimar, mas, sem demasia, uma faísca chega a provocar mágoas incalculáveis. Existem aqueles que têm o dom de tirar de letra uma dor que insiste em doer, enquanto outros precisam de um dicionário inteiro de resignação.
                O fato é que há coisas que, uma vida inteira, não traz nelas o benefício do esquecimento. A separação de quem mais se ama, é um exemplo que queria tirar do calendário. Sem pé, impossível deixar pra lá, ainda, acusação cruel e injusta, seguida do silêncio político apartidário dos meus, que deixa o acusado em total desamparo e abandono.
               Para escapar das lembranças que me assolavam, mudei de endereço. Sobrevivência, solidão e fuga, significaram autossuficiência, independência e conquista material. Aprendi mutilado que a objetividade simplifica e difere de quem está arrebatado pela dor. Ainda hoje, diante disso, esvaziar a memória é exigir muito, quando pouco sobrou.
               Uma tragédia, em seguida, bateu a minha porta. Solidariedade e humanismo fizeram que meu coração, a partir de então, batesse fora do meu peito. Descobri, com a desesperança que, duradouro e frágil, não são antagônicos, mas irmãos gêmeos. Isso não sai do meu pensamento nem um minuto sequer.
               Em instantes fico logo amigo de infância, ainda mais quando se trata de amizades com mais de vinte anos. Uma desapareceu sem noticiar, outra me deletou aos poucos. As explicações vieram mais tarde: a primeira era concorrente sem existir o jogo, a segunda apenas pensou no seu interesse pessoal imediato. Preferia que ”A Rita”, de Chico Buarque quando diz “que levou os meus vinte anos”, não estivesse na minha trilha sonora.
               Se a Educação é uma aventura, os bastidores dela é uma saga.  Mais de dez anos no meu principal trabalho, certo reconhecimento material e simbólico transformou-se em emprego compulsório. Minha saída teve que ser litigiosa, como um divórcio, onde um traia enquanto outro ainda amava.
               A calúnia, injúria e difamação feita por pares no exercício do meu ofício, que sou tão cuidadoso, são difíceis quando se tem que processar. Não sou refém da atração exercida pelo poder, da vaidade ou insegurança do outro e muito menos de mais pratinhas no fim do mês. A fórmula do esquecimento disso eu procuro, incessantemente, mas desconheço.
               Responsável quando recebe notificação, acusa o professor de causar constrangimento. Outra pérola é quando um descontente com o resultado do aluno declara que “História é perfumaria”. Como levar isso na flauta? Só com uma orquestra inteira, quem sabe.
               Esbarrei com pessoa movida apenas pela utilidade e que descarta em seguida. Presenciei pequenos golpes em pessoa que não tinha má fé. Assisti superego inflado. Deparei com a exigência de discipulado. Sem lente de aumento vi o respeito sendo desrespeitado. Observei a dificuldade que há em aceitar o direito individual e legítimo de pensar diferente. Hoje sei lidar, cada vez melhor, com isso. Contei com a experiência que é uma professora exigente.
               O tempo precisa de tempo e resolve tudo, diz um ditado popular. Juro que faço das tripas o coração para esquecer as lembranças que aprisionam. Caso um dia consiga, prometo excluir essa postagem.

6 de abril de 2010

Ser diferente é que são elas.

               A diferença custa muito caro e o seu preço é imensurável. Repousar em verdades dogmatizadas pelo “senso comum” é muito mais confortável que se exercitar no desafio diário de ser o que se é, em nome de uma verdade sem máscara, seja ela qual for.
               Historicamente, a contemporaneidade se esforçou, e muito, para uniformizar as diferenças. A padronização tendeu moldar as semelhanças e minimizar o que diverge. Essa massificação do indivíduo reforçou, na prática, a imobilidade e acomodação.
               Diante da diferença, estar entre os pares é mais espontâneo que entre os ímpares, negar-se é mais rápido que se revelar, repetir é mais cômodo que permitir e aprisionar-se é muito mais comum que se libertar.
                Na matemática a diferença está associada à subtração, ao inverso da soma e ao sinal de menos. Curioso que o elemento neutro na adição é sempre o zero, que somente é válido para a soma e nunca para a subtração.
               Cabe registrar, ainda,  que nas operações de soma ou subtração prevalecem sempre o valor maior, ou seja, a maioria. Já na multiplicação e divisão a regra dos sinais é implacável: mais com mais dá mais, menos com menos dá mais, porém mais com menos dá menos.
                Se, ainda na ciência exata, a ordem dos fatores não altera o produto, como também a ordem das parcelas não altera a soma, o mesmo não acontece quando efetuamos a subtração. Nessa operação, quando o minuendo não é maior que o subtraendo o resultado além de ficar negativo é chamado de resto.
               Já nas Letras o “outro”, aquele que difere, tem sido adjetivado seja, no grau comparativo e superlativo, o que socialmente além de um terrível equívoco é, sobretudo inconstitucional.
               Exige-se de quem é muito diferente (grau superlativo absoluto analítico). A maioria considera-se melhor que a minoria (grau comparativo de superioridade).  O distinto é menos compreendido que o equivalente (grau comparativo de inferioridade). Antecipadamente foi excluidíssimo (grau superlativo absoluto sintético). Pior que esses exemplos é a mais cruel e covarde realidade de quem escapa de padrões sociais rigidamente estabelecidos.
                A equivalência pouco comporta a divergência e todas as inúmeras possibilidades. O que é diverso, mudado, distinto e variado, exige, na prática, legitimidade e inclusão, sem distinção sempre.
                A diversidade humana, múltipla e complexa, é ao mesmo tempo plural e singular. Potencialmente, a diferença é capaz de somar, acrescentar, ou melhor, complementar. Na prática, muitas vezes, o resultado dessa equação da vida é desumano: anulação, eliminação e exclusão.
               Ser diferente traz, geralmente, a fatura da dessemelhança, do afastamento, do desvio e da oposição, entre tantos outros. O alto custo é gerado pelo índice do pavor da mudança, do risco da alteração e da dimensão que a discordância alcança.
               A diferença vem acompanhada da destemida aventura em não condizer, em livrar-se das proporções permitidas e pela coragem em não se harmonizar no que já está definido e pronto.
               Enquanto a semelhança acompanha o pertencimento, a diferença enfrenta a aceitação. Se a semelhança acomoda a maioria, a diferença disfarça a incógnita. Estar semelhante, cá entre nós, é bem mais fácil, já ser diferente é que são elas.

1 de abril de 2010

Viveu letras de músicas.

               “Sou das canções” (1). Sai dos “bastidores” (2) “sem fantasia” (3), passei por um “folhetim” (4) “sob medida” (5) , fiquei “desafinado” (6) na “balada triste” (7), quando “um rouxinol cantando se hospedou em mim” (8).
               Faltam “versos simples pra transformar o que eu digo’’(9), em “longas cartas que faço pra ninguém” (10). “Subo bem alto pra gritar” (11 ), mas “falo pouco, a voz está tão presa” (12), “suspirando em falsete coisas que eu não sei contar”(13).
               “Se você não entende não vê, se não vê não me entende” (14) “em outros risos e outros timbres” (15). ” Jurado pra morrer de amor” (16), “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” (17).
               “Aprendendo a só ser” (18), “no meio das bugigangas” (19), “maltrapilho e maltratado” (20), “meu coração finge fazer mil viagens” (21). “O destino não quis me ver como raiz” (22), “até quando o corpo pede um pouco mais de alma” (23).
                “Estou ao meio, não moro mais em mim” (24). “Vivo num cenário do lado imaginário. Meu mundo está fechado pra visitação” (25). “Nada ficou no lugar” (26). “Se ligarem não estou” (27).
               Ando “com qualquer humor, com qualquer sorriso” (28). “Do jeito que eu fiquei e que tudo ficou” (29), “nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento” (30). “Na moldura do retrato não sou eu quem sorri” (31). ”A melancolia não sai de mim, não sai” (32). “Quero chorar, não tenho lágrimas” (33).
               “Caminhando contra o vento” (34), “parto a procura de nada” (35). No “chão de giz” (36), “salpicado de estrelas, piso nos astros distraído” (37). “Tropeço em meu caminho” (38), “vagando em verso” (39), com “a ponta de um torturante bandaid no calcanhar” (40).
               “Agora estou tão longe ver a linha do horizonte me distrai” (41). Como aquele “que se encanta mais com a rede que com o mar” (42), “a onda me acerta” (43) com uma “saudade que bate que nem maré” (44). “Lá fora o frio é um açoite” (45). “O vento me traz o que quero esquecer” (46) das “migalhas” (47) do que “é de sonho e de pó” (48).
               “Quanta loucura por tão pouca aventura” (49). Com “nervos de aço” (50), vou “controlando minha maluques, misturada com minha lucidez” (51), mas “desbaratino não dá pra ficar imune” (52).
               “Se me der na telha sou capaz de enlouquecer e mandar tudo pr’ aquele lugar“ (53), assumindo o papel de culpado e bandido, numa estranha loucura” (54), quando tenho que “contar até três e se precisar contar outra vez” (55). “Perdi o juízo e não me responsabilizo, nem por mim, nem por ninguém (56).” “Um louco alucinado meio inconsequente” (57), “não tem explicação” (58).
               “Pode crer, eu estou bem, eu vou indo. Estou tentando, vivendo e pedindo com loucura” (59) pra “crescer a voz no que falta sonhar. A lição sabemos de cor e não custa inventar uma nova canção” (60).
               “Fico com a pureza da resposta das crianças”(61) e “em paz com a vida e com o que ela me traz” (62). “Essa canção é só pra dizer e diz” (63) que “enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora vou à valsa” (64). “São dois pra lá, dois pra cá” (65).
Observações:
a) Grande parte dos versos foi adaptada e as citações têm o título da música com o compositor ou um de seus intérpretes.
b) (1) Chama/Joana; (2) Bastidores/Chico Buarque; (3); Sem fantasia/Chico Buarque; (4) Folhetim/Chico Buarque; (5) Sob medida/Chico Buarque; (6) Desafinado/ Tom Jobim; (7) Balada triste/Altemar Dutra ; (8) O rouxinol/Milton Nascimento; (9) Mais feliz/Adriana Calcanhoto; (10) Inverno/Adriana Calcanhoto; (11) Elevador/Ana Carolina; (12) Pai/Fábio Júnior; (13) Paixão/Cláudia Leite; (14) Primeiros erros/Capital Inicial (15) Na sua estante/Pitty; (16) Meu bem querer/Djavan; (17) Dom de Iludir/Gal Costa; (18) Eu preciso aprender a ser só/Maysa; (19) Mutante/Rita Lee; (20) Com açúcar e com afeto/Chico Buarque; (21) Naquela estação/Adriana Calcanhoto; (22) Flor de Liz/Djavan; (23) Paciência/Lenine; (24) Metade/Adriana Calcanhoto; (25) Coisas que eu sei/Dani Carlos; (26) Mentiras/Adriana Calcanhoto; (27) Nuvem negra/Djavan; (28) Só hoje/Jota Quest; (29) Do jeito que eu fiquei/Tom Jobim e Dolores Duran; (30) Canteiros/Fagner; (31) Detalhes/Roberto Carlos; (32) Chega de Saudade/Tom e Vinícius; (33) Não tenho lágrimas/ Ivete Sangalo; (34) Alegria, Alegria/Caetano Veloso; (35) Caminhemos/Herivelto Martins; (36) Chão de giz/Zé Ramalho; (37) Chão de estrelas/ Maria Betânia; (38) Fera Ferida/Maria Betânia; (39) Andança/Beth Carvalho; (40) Dois pra lá, dois pra cá/Elis Regina; (41) Vento no litoral/Renato Russo; (42) Lua e flor/Oswaldo Montenegro; (43) Vento no litoral/Renato Russo; (44) Que nem maré/Jorge Vercilo; (45) Fica comigo essa noite/Nelson Gonçalves; (46) Sem ar/D´Black; (47) Migalhas/Simone; (48) Romaria/Elis Regina; (49) Um dia, um adeus/Guilherme Arantes; (50) Nervos de aço/Paulinho da Viola; (51) Maluco beleza/Raul Seixas; (52) Lança Perfume/Rita Lee; (53) Shangrilá/Rita Lee; (54) Estranha loucura/Alcione; (55) Sua estupidez/Roberto Carlos; (56) Paixão/Cláudia Leite; (57) É o amor/Zezé di Camargo e Luciano; (58) Segundo sol/ Cássia Eller; (59) Pai/Fábio Júnior; (60) Sol de primavera/Beto Guedes; (61); O que é, o que é/Gonzaguinha; (62) Emoções/Roberto Carlos; (63) Você é linda/Caetano Veloso; (64) Paciência/Lenine; (65) Dois pra lá, dois pra cá/Elis Regina.